Quando comecei a entender mais sobre o universo dos gatos, essas duas siglas sempre apareciam: FIV e FELV. No começo, confesso que soavam distantes, difíceis de compreender. Foi só depois que o meu primeiro gatinho foi diagnosticado com as duas doenças que aprendi, na prática, o que elas significam e o quanto é importante conhecê-las. Ele viveu doze anos, e me mostrou que um diagnóstico não define o amor, nem a qualidade de vida que podemos oferecer.
O que são FIV e FELV
A FIV é a imunodeficiência felina, um vírus que afeta o sistema imunológico do gato e o deixa mais vulnerável a infecções. Já a FELV é a leucemia felina, que compromete a produção de células de defesa e pode causar anemia, infecções recorrentes e até tumores.
Ambos são retrovírus, semelhantes em estrutura ao HIV humano, mas não representam nenhum risco para pessoas. Esses vírus atingem apenas gatos, e por isso o cuidado deve ser específico.
De acordo com estudos publicados pela Associação Americana de Clínicos Felinos (AAFP), a prevalência desses vírus pode variar bastante entre regiões. No Brasil, levantamentos mostram índices que vão de 1% a mais de 40% da população felina, dependendo da densidade de gatos e do acesso à rua. Essa variação mostra que, mesmo em lares com gatos domésticos, o risco existe e o teste é fundamental.
Como acontece a transmissão
A forma de transmissão é o que mais diferencia um vírus do outro.
A FIV é transmitida principalmente por mordidas entre gatos. Por isso, machos não castrados e gatos que têm acesso à rua estão mais expostos, já que costumam brigar por território. Também há casos de transmissão de mãe para filhote, embora sejam mais raros.
A FELV, por outro lado, se espalha com muito mais facilidade. O vírus está presente na saliva, nas secreções nasais e até no leite materno. O simples ato de compartilhar potes de água, comida ou lambeduras entre gatos já pode causar infecção.
Por isso, os especialistas recomendam testar todos os gatos novos antes de apresentá-los aos demais da casa. É uma forma de proteger os que já estão saudáveis e garantir que o novo membro receba o cuidado adequado desde o início.
Como o vírus age no organismo
O grande desafio da FIV e da FELV é que são doenças silenciosas. Nos estágios iniciais, o gato pode parecer completamente saudável, mas por dentro o sistema imunológico está sendo comprometido.
Com o tempo, o corpo perde a capacidade de combater infecções simples, e o gato pode começar a apresentar sintomas como febre, perda de peso, gengivas pálidas, infecções de pele ou problemas respiratórios.
Um estudo da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC) mostrou que gatos infectados podem permanecer assintomáticos por até cinco anos, o que reforça a importância dos exames preventivos. Quando o vírus entra em fase ativa, ele enfraquece as defesas e permite que outras doenças se desenvolvam com mais facilidade.
Diagnóstico e primeiros cuidados
O diagnóstico é simples e rápido. O teste é feito com uma pequena amostra de sangue e o resultado costuma sair em poucos minutos. Ele pode ser feito em clínicas veterinárias comuns ou em campanhas de adoção.
Quando o resultado é positivo, é importante não entrar em pânico. O veterinário vai orientar sobre os próximos passos, que incluem acompanhamento regular, controle de vacinas e uma alimentação de qualidade.
Gatos positivos para FIV ou FELV devem viver dentro de casa, em ambiente seguro e tranquilo. A castração é essencial, tanto para evitar brigas e fugas quanto para reduzir o estresse.
Vivendo com um gato positivo
Meu primeiro gatinho foi o maior exemplo de que diagnóstico não é sentença. Ele viveu com alegria, brincava, comia bem e amava o carinho. O segredo está em criar um ambiente estável, com rotina, sem sustos e com muito amor.
Os gatos com FIV e FELV precisam de um olhar mais atento. Consultas semestrais, controle de parasitas, boa hidratação e nutrição equilibrada fazem toda a diferença. É importante também evitar situações de estresse e manter tudo limpo e organizado, porque qualquer infecção pode ser mais difícil de combater.
Gatos positivos devem viver sozinhos ou com outros gatos que tenham o mesmo diagnóstico, para não haver risco de contágio. Isso não é isolamento — é proteção. Eles continuam sendo gatos cheios de personalidade, que brincam, pedem carinho e enchem a casa de vida.
Um cuidado que nasce do amor
Entender sobre FIV e FELV é entender que cada gato é único. Com acompanhamento veterinário e um ambiente seguro, eles podem viver por muitos anos e com ótima qualidade de vida.
O mais importante é não deixar o medo se sobrepor ao amor. Informação e cuidado são as maiores formas de proteção. Quando a gente acolhe um gato, a gente assume o compromisso de cuidar, independentemente do que vier.
E é lindo perceber que mesmo um diagnóstico pode se transformar em uma história de amor, confiança e superação.
